domingo, 9 de junho de 2013

Aeronaves seguem pousando sem você desembarcar.

E assim tiraram minha inspiração, de repente. De maneira intensa, violenta e sutil.
Não escrevo, não desenho, não penso, não vivo. Não acordo pra viver, acordo pra repetir ações ao longo do meu dia para no final dele recostar minha cabeça e saber que tudo acontecerá de novo nos próximos dias. Uma luz que um dia eu tive me dava mais disposição para continuar fazendo as coisas que eu deveria, por mais que eu não enxergasse direito essa fonte luminosa no meio de tanta claridade escura. Sinto falta das coisas, sinto falta de abraços e carinhos. Coisas bobas, coisas pequenas, coisas que importam de verdade.
Sorrisos e aconchegos.
Fazer com que a sua vida fique mais leve após fazer uma brincadeira irritante só pra provocar, depois dar um abraço e um beijo falando que a única coisa que importa é que as coisas fiquem do jeito que estão. Nada me faria mais feliz que deitar num carpete recostado num móvel apenas para ver uma vida dormindo, feliz e serena, como se nada fosse mais importante que aquele frágil e delicado ser.
Gracioso por si, maravilhoso pra mim.
Palavras não contém nem um décimo do sentimento que eu posso colocar para representar minha saudade e minha baixa expectativa de que algum dia eu volte a poder olhar um sorriso de volta ao reencontrar a pessoa que tanto prezo. Sorrir, abraçar e dizer que vou ficar ao lado dela até que me arrastem para fora dali. Dizer que as coisas importantes da vida são baseadas nas consequências da alegria e do desejo de estar pra sempre juntos.
E assim tiraram minha inspiração, de repente. De maneira intensa, violenta e sutil.
Cortaram as cortinas, quebraram as memórias e apagaram o passado. Olhar para o rosto e acenar com a cabeça. Ir para um lugar e ficar na esperança de que não haja encontro algum. Mas há de haver, pois por mais que o desejo de não se encontrar seja grande, o acaso gosta de provocar. Uma certa vingança pelas provocações bobas que fazíamos desnecessariamente para rir da reação. Sorrisos não se encontram, só nervosismo pela presença. Não é nem nervosismo de angústia, é algo que pega de surpresa mesmo. Parece que a presença é incômoda, apesar de não ser. Não há mais abraço, não há mais provocação, não há mais saudades, não há mais emoção, há apenas a liberdade mútua. Liberdade de não querer mais um sorriso e um carinho do seu lado. Liberdade de não ver mais o seu mundo deitado e descansando em sua cama enquanto você fica ali olhando e guardando para que nada nem ninguém possa feri-lo em seu momento desprotegido.
A vontade seca e as lembranças se tornam vazios.
Qualquer informação se torna irritante. Qualquer comentário dá vontade de implicar, mesmo que de graça. Não há mais a vontade de se dar bem, apenas o desejo de tirar a pessoa do sério. E não é para ver um sorriso, nem mesmo para garantir o seu próprio sorriso. É apenas para nada.
Sinto vontade de dar um abraço apenas para mostrar o que é um abraço. O que foi um abraço.
Mas o que faz o abraço não é o contato físico, é o contexto geral de sentimento somado com o afeto que existe entre os abraçados. Abraços vazios são horríveis. Abraços saudosos são maravilhosos. Abraços amorosos são perfeitos.
Mas não há mais abraço, não há mais brigas, não há mais discussões, não há mais lágrimas, não há mais desejos, não há mais nada.
Como minha inspiração, que foi tirada de mim de repente. De maneira intensa, violenta e sutil.