sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Cubram-se que a frente fria chegou e o vale vai inundar.

Eu sou muito criterioso e gosto de apontar o dedo pra falar das coisas. Os defeitos daquilo que quero apontar sempre aparecem muito mais que as características positivas. Pode ser porque rola um exagero ou porque as coisas ruins possuem um destaque natural. Quando alguém comete uma besteira, sempre rola um efeito maior que quando alguém faz uma boa ação ou algo incrível. É natural que as partes negativas tomem um maior lugar.
Eu não gosto de São Paulo e o mundo inteiro sabe disso. Há muitos motivos pra desgostar daqui, como o trânsito, a pressa das pessoas, não ser uma cidade litorânea, etc. Talvez isso tenha começado há uns anos, já que quando eu era menor eu não tinha amigos. Os poucos que eu tinha, não tinham nada a ver comigo. Nunca tive amigo de prédio ou de rua, todos eram da escola. Minha escola era de riquinho e eu não era um desses. A gente tinha uma televisão lá em casa e eu assistia TV Manchete com meu irmão. Mais precisamente Cavaleiros do Zodíaco. Minha mãe gravava todos os episódios em fitas. Meus amigos da escola não sabiam o que era Cavaleiros do Zodíaco. Eu ficava maluco querendo saber o que eles faziam da vida senão assistir esse desenho, já que era a única coisa que eu vivia fora da escola. Eu não tinha assunto com meus amigos direito por causa disso, então no final a gente brincava de correr, pular, esconder, mas nunca conversava direito. Até que chegava as férias.
Minha infância inteira era passada em família (natural). A diferença é que eu tenho primos ligados à família da minha mãe que cresceram comigo. Eu era o caçula até ter feito sete/oito anos, que foi quando eu ganhei um priminho mais novo. Todas as férias eu passava com meus primos. E eles sim conheciam aquilo tudo que eu conhecia. Meus primos eram meus amigos que eu poderia conversar sobre aquilo que eu gostava e assistia. Dá até pra fazer uma escada com nossas idades, do mais velho até mim. A gente se divertia muito, criávamos poderes para cada um de nós e não parávamos por nada. O problema era quando chegava o final das férias e eles tinham que ir embora. Éramos seis, contando com meu irmão. Mas todos eles moravam em São Paulo. Eu odiava aquele sotaque de quando eles chegavam e gostava do jeito que ele ficava quando estavam perto de partir. Era triste. Todas as férias em Friburgo ou na casa da minha avó (que é onde eu moro atualmente) era o grupo de primos se divertindo juntos.
Talvez eu tenha começado a sentir uma ponta de raiva de São Paulo por causa disso. Essa cidade me tirava meus primos-irmãos de mim. As pessoas que eu mais me identificava quando criança. E sem contar com o fato de eu ser carioca e ter toda aquela rivalidade cultural que a sociedade reflete.
Teve uma época que eu estava todo voltado pro meio-ambiente e essa coisa pró-ativa. Não que eu não me preocupe agora, continuo fazendo a minha parte, mas foi uma época que eu realmente me preocupava. Eu comecei a estudar essa coisa de chuva ácida e etc. E nas escolas eles sempre pegava São Paulo como exemplo. Mostrando exatamente como não se deve fazer. Uma cidade suja, com ar nocivo e uma chuva capaz de corroer a lataria de um carro. Mais coisas para serem adicionadas.
Mas a lista de coisas que eu não gosto por aqui não para. Aliás, ela é bem grande. Tão grande que se eu começar a falar, esse texto não terá fim porque sempre me lembrarei de mais alguma coisa. Mas eu sei que posso falar das coisas que gosto daqui. Das coisas que só quando eu venho pra cá eu me lembro. Que as coisas funcionam. Que aqui você se sente num meio mais sério. Uma cidade mais séria.
São Paulo me lembra trabalho. Me lembra que você não pode bobear ou ficar parado. A cidade é bem viva e você sempre vê alguém indo atrás de algo. O metrô daqui é perfeito comparado ao lixo que é o do Rio. Pela falta de praia, parques e outros lugares são mais frequentados. Gostaria que no Rio os parques fossem melhor tratados e frequentados. Temos mil lugares maravilhosos mas as pessoas se esquecem. Só existe a Lagoa e a praia. São Paulo é um lugar ideal pra quem quer se dar bem e subir no trabalho. Há chances e opções. É um lugar para se ganhar bem e ganhar nome. As pessoas podem ser menos carismáticas em alguns aspectos, mas em outros, elas são muito receptivas. Basta saber o que você quer. E querendo ou não, é uma cidade organizada. Meio labiríntica, mas organizada.
Eu não morro de amores por SP e meio mundo sabe disso. Aliás, acho que as pessoas já estão até de saco cheio de eu estar falando disso tão frequentemente. Mas não mostrei o lado bom e gostaria de falar que tem realmente um lado bom. Como tudo.

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Do Leme ao Pontal

Andando pela cidade dá pra reparar na beleza natural que ela tem. É uma coisa meio chata saber que há tantas pessoas que não reparam e, na verdade, destroem e corroem essa aparência. Meu Rio é uma cidade linda que gosto de preservar e cuidar. Como dizia a plaquinha: "Respeite o Rio". Hoje em dia é mais comum ver outro aviso que diz "Eu Amo, Eu Cuido". Quase a mesma coisa que a outra numa interpretação simplista (na qual acho que foi a proposta empregada aí). Mas se pararmos pra pensar, não é a mesma coisa.
Cuidar e amar é uma coisa. Respeitar é outra.

Nós amamos aqueles que segregamos para nós. São coisas especiais que merecem o máximo do nosso carinho e atenção. Sim, nós cuidamos daqueles que amamos. A vontade de tomar conta e a vontade de proteger. Não deixar nada de mal chegar e querer sempre ter por perto pessoas queridas. Posso estar me aprofundando muito numa coisa fundamento, mas para mim é desse jeito que as coisas funcionam. E onde entra o respeito?
O respeito sempre vai estar lá. Respeito não se perde, ninguém tem o direito de desrespeitar outra pessoa. Você deve respeitar a todos, seja quem for. Ainda mais aqueles que lhe são caros. Faltar com respeito à alguém é o mesmo que perder sua razão. Minha indignação à falta de respeito só cresce e só tem crescido.

Ou seja, esse lema fez com que o foco das pessoas fosse amar o Rio para cuidar dele, e não respeitar.
Dá pra amar sem respeitar?
Dá pra viver sem respeito?

sábado, 25 de agosto de 2012

Razão.

A precipitação que bate dentro das pessoas é um reflexo daquilo que acontece num pequeno pote de biscoito quando alguém balança tanto que se torna pózinho.
Aquilo tudo que fica dentro são vestígios do que já foi um dia um grande inteiro pedaço maciço.
Massinhas se tornam pedaços de comida. Eu prefiro com algum molho incluso.
Seus pés cansados podem ficar relaxados com uma pequeno aperto de polegares em formatos circulares.
O despertar da vida acontece de madrugada durante uma sonolência quase corrompida com escadas e paraísos líricos. Não gosto do filho do filho do criador.
Já me passei por sanguessuga brilhoso ao mesmo tempo que já me passei por amante involuntário.
Se abdicar de uma peça única no mundo para provar que só existe uma coisa única pra mim.
Bolos bicolores que guardam monstros de bolso para prevenir desfelicidade e esconder uma camada de chocolate.
Estar olhando de baixo enquanto dorme e não conseguir relaxar preocupado se está coberta ou não.
Montar fotos e misturar anil com caramelo para sentir a vibração boa das cordas bambas.
Roubar computadores à milhas de distância para poder gastar minutagens de conversas enquanto gapeava casacos cor-de-barro seco.
Caixas com discos que elevam os astros e misturam as casas dos signos com paixão de criança.
Dividir lugares enquanto alquimistas nos mostram um futuro diferente daquele que nós sabíamos anteriormente.
Nas praias de vento numa casa de rua esburacada. Três cômodos. Um cômodo. Acomodei-me.
Dois velhinhos numa loja de discos. Fardas discriminativas.
Duas semi-irmãs surpreendendo pós-aula para vingar um filme nas escadas.
Um assassino correndo e fugindo, pulando e lutando.
Festas juninas reatáveis e coloridas.
Surgir contra apelando para a razão.

domingo, 19 de agosto de 2012

Um Animus não muito conectável para os outros.

Existem certos tipos de coisa que a gente pode chamar de certos tipos de coisa. Existem outras que não podemos chamar. Um certo tipo de coisa que queremos dizer pode ser qualquer coisa, só importa a gente ter algo para poder falar sobre um certo tipo de assunto. O problema consiste em você conseguir pegar esse assunto. Quando conseguimos esse assunto, nós conseguimos falar sobre essa coisa, e aí nós podemos dizer quais são as coisas que poderemos falar. E finalmente quando sabemos todas as opções de tudo aquilo que pensamos, temos deveras tipos de coisa na cabeça.

Minha vida pode ser resumida a fracassos e a vitórias. Não no mesmo número nem na mesma intensidade, mas podemos considerar que ambos aconteceram muitas vezes. Podemos dizer que eu já passei por muita treta e muitos momentos ruins, momentos que eu não gosto de lembrar, momentos que me fizeram me tornar quem eu sou hoje e ainda me faz crescer cada vez mais. Mas também já passei por muita coisa boa que também me ensinou muitas outras coisas, sem contar que as memórias são as mais gostosas possíveis. Memórias.

O que são memórias? O que é a experiência? Eu me deparo com certas dúvidas durante minha medíocre vida e fico me perguntando e me forçando a pensar nessas palavras e nos seus significados. A vida foi feita pra ser vivida. A vida é feita de sentimentos e realidade. A vida é feita de muitas mil coisas e ao mesmo tempo é feita de quase nada. Chega a ser tão simples que nós gostamos de botar um pouco de complexidade. A nossa vida se resume a vontade de criar memórias. É apenas isso. Seja criar memórias no dia de hoje ou criar memórias para um dia que vai chegar. Nós gostamos de viver para lembrarmos que vivemos. No final, o que fica sempre serão as coisas que fizemos, e não as coisas que queremos ou planejamos. As coisas que não fizemos não será gravada em lugar nenhum. Podemos dar um salto de um penhasco e conseguir se segurar do outro lado da montanha. Iremos nos lembrar de ter feito essa estupidez. Podemos tentar saltar e cair e morrer. As pessoas vão saber que você foi um idiota que tentou pular um penhasco. Mas se não pularmos ou fizermos nada (o que é o mais plausível para esse exemplo imbecil), nada irá ser cravado nas lembranças das pessoas. Não aconteceu nada e nem vai acontecer. Você não fez, você não agiu, você não implantou uma memória.

Claro que é muito gostosa a sensação de estar fazendo alguma coisa que você gosta. Todos nós amamos fazer aquilo que nos dá prazer. Seja sair com os amigos, andar sozinho por um lugar, ler, dormir, escrever, jogar ou qualquer outro exemplo que se encaixe nesse contexto. Você gosta de viajar com seus amigos pela experiência agradável que planeja ser. Mas no final, você repara que será realizado num curto período de tempo e que, quando você se dá conta, já passou. No final, você adquiriu memórias gostosas daquele evento. E as pessoas vão falar "vamos de novo!", "nossa, foi muito bom...", etc. E por que não fazemos de novo? Por que não colocamos mais memórias na nossa cabeça?

Memórias, lembranças... Somos feitos disso. Não estou dizendo que as pessoas vivam disso, apenas digo que é isso que faz uma pessoa. Não se vive de um passado. Você não é a mesma pessoa que você foi há um segundo atrás. A cada dia que passa, a cada vento que assopra em você, faz de você outra pessoa. Uma pessoa maior e diferente. Qualquer fato que acontece na sua vida, bom ou ruim, é uma experiência. Você trabalha com ela e faz-se outra pessoa.

Você não pode mudar nada daquilo que você já fez, mas você pode aprender com tudo e se transformar naquilo que você almeja ser ou conseguir fazer aquilo que você almeja fazer. Você tem o poder nas suas mãos e tem todas as lembranças das suas tentativas antigas na sua cabeça.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Miragens formadas por ondas luminosas que são rebatidas por um pedaço de metal com vidro na frente.

Eu conheci um menino que gosta de criar. Ele gosta de saber a opinião das pessoas e gosta de saber que as pessoas gostam do que ele faz. Ele gosta de ajudar as pessoas para poder receber um sorriso de volta. Ele gosta de retorno.
Eu conheci um menino que não sabe falar. Ele tenta de diversas formas se pronunciar e dizer o que pensa mas é vedado de diversas maneiras. Sua cabeça as vezes o limita e ele não se expressa da maneira que gostaria.
Eu conheci um menino que ficou olhando para o céu enquanto estava de baixo da chuva. Seus olhos não conseguiam enxergar nada e ele sentiu como se o alcance dele fosse nulo.
Eu conheci um menino que acha que tudo o que uma pessoa é capaz de escrever, é pra si. Ele explicou que não importa a sua inspiração ou a sua motivação Se você escreve algo, não é para ninguém além de você mesmo. Você pode buscar suas inspirações em pessoas, mas continua sendo algo feito para se aliviar. Você pode até mesmo escrever uma carta, mas isso nada mais é que a sua vontade de falar com alguém. Sua.
Eu conheci um menino que gostava de saber como o mundo funcionava. Ele achou que tinha encontrado sua vocação numa matéria de escola. Ele começou a ajudar os outros e viu que as pessoas saíam satisfeitas. Ele achou que isso seria o seu fruto de viver. Esse mesmo menino depois de uns anos percebeu que, o que ele gostava, era de ver as pessoas que ele ajudou se dando bem e agradecendo à ele. Ele adorava o reconhecimento.
Eu conheci um menino que era capaz de mudar o mundo. Que era capaz de fazer mil e uma coisas diferentes. Mas ele não lutava. Não que ele não fizesse nada, mas ele simplesmente não fazia. Um dia ele acordou pra vida, mas acordou tomando o maior tombo.
Eu conheci vários meninos. Cada um com uma história diferente. Cada um com um sorriso e um olhar diferente.
Todos dentro de um.

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Uma casa rosa na beira da rua.

É tão frágil.
Tudo é muito frágil.

Nós vivemos de maneira que nos provoca a melhor sensação possível. Nós fazemos as coisas que queremos. Nós sempre pensamos no que pode ser o melhor para nós e pensamos no que pode ser o melhor para as pessoas ao nosso redor. Vivemos em função das funções que escolhemos. 
Fazemos planos, fazemos escolhas, fazemos tudo o que nos dá vontade (e também o que não dá, e essa a gente faz mais). Vivemos como se os dias não acabassem nunca e nós teremos tempo pra tudo.
Acontece que talvez nosso tempo seja limitado. Nós nunca sabemos o dia de amanhã. O amanhã pode ser claro como um raio de sol ou pode ser escuro como o breu da noite. O tempo não pode ser parado e a vida não para. As pessoas não param de pensar em seus planos e não param de investir e criar e criar mil ideias pra daqui a dez, vinte, trinta anos.
E aí você está indo dar seu primeiro passo na vida e a vida resolve sair de você.
O nome da vida é vida porque ela um dia se vai.
E quando ela chega, o que você vai fazer? Você não escolhe, você não decide o momento.
De que serviram os planos? De que serviu o investimento?
Não digo que não é para ser feito, não digo que a vida é feita de Carpe Diem. Mas as vezes abrir mão de alguns planos e aproveitar a vida lá fora não é de tão ruim. A vida é frágil, mas o que não é? Um dia você pode estar nadando num mar de rosas olhando para um rosto e sorrindo. Depois o mar de rosas pode criar espinhos e o rosto que antes sorria não está mais ali.
Há quem diga que as coisas acontecem por um motivo. Eu digo que nós fazemos o motivo pras coisas acontecerem.

Não falava com ela há muito tempo, mas eu lembro de seu sorriso. Eu era chamado de "cu" durante todo o tempo que eu passei naquela casa durante os poucos meses que frequentei. 

Ainda bem que as lembranças ficam. Até porque, nós somos feitos de que, senão lembranças?

sábado, 21 de julho de 2012

Eu conheço a música.

Todos os dias quando acordo, não tenho mais o tempo que passou... Não tenho nem mais tempo. Perdi todo o tempo do mundo. Todos os dias, antes de dormir, lembro e esqueço como foi o dia. Sempre em frente? Não temos tempo a perder. Nosso suor sagrado é bem mais belo que esse forte amargo (e tão sério).
Cadê o sol nessa manhã tão cinza. A tempestade que chega é da cor dos seus olhos castanhos.
Então me abraça forte e diz mais uma vez que já estamos distantes de tudo.
Temos nosso próprio tempo?
Não tenho medo do escuro mais deixo as luzes acessas agora.
O que foi escondido é o que se perdeu.
O que foi prometido, alguém prometeu.
Não foi tempo perdido.

terça-feira, 19 de junho de 2012

Enginossaur grawrawrawr

Parei de escrever aqui no blog por motivos de trabalho. Agora sou diretor da divisão do editorial de um site chamado Enginossauro. Eu tenho que ficar corrigindo todas as anomalias imbecis que aqueles analfabetos escrevem. É foda e desencorajador... Mas nada posso fazer já que eu me coloquei responsável por isso. Gostaria que pelo menos as pessoas lá não fossem tão cabeça-dura em uns aspectos ou outros, mas trabalhar num site que você não coordena, e sim coordena junto de outros é assim. Aprender a conviver com o diferente é um porre e te irrita, mas é preciso ter paciência e mente aberta.
Bom, meus posts aqui serão muito escassos, motivo dito acima. Porém eu estou começando um projeto no site para postar todo domingo. Serão posts no estilo que posto aqui no blog. Por isso peço pra que, se ainda existe alguém que veja isso aqui, dê uma passada todo domingo à noite no site para ler, ou se preferir na segunda feira, já que não tenho um horário fixo para postar.



segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

O nome dela era Clara.

Um homem cansado estava chegando no ponto de ônibus. O dia estava com neblinas densas e pouco úmido, garoando de leve. O homem se sentou no ponto e começou a relaxar: esticou as pernas, apoiou sua no banco e tirou totalmente sua postura. Parecia uma criança que não tem paciência de assistir a missa durante a homilia. Sua cara não demonstrava tristeza, apenas cansaço. Um cansaço pesado, que se colocado em termos físicos poderiam ruir a mais poderosa ponte criada pelo ser humano.
Ao ouvir passos de salto-alto aumentando de volume, o homem se endireitou e sentou, de novo, feito um adulto no ponto. Uma imagem começou a se formar na neblina e uma figura feminina chegou ao ponto de ônibus. A mulher também parecia ter uma aparência cansada, apesar de não estar com um rosto de arrependida. Simplesmente não estava com forças nem para se sentar no ponto. Chegou e permaneceu em pé. Não houve trocas de olhares nem interesse algum de um prestar atenção na presença do outro. Ambos estavam cansados e apenas esperando o ônibus chegar para levá-los ao destino deles.
Se ouve dessa vez passos de um homem como se estivesse marchando, amassando o chão. Parecia que queria quebrar o solo com suas fortes pisadas. O homem chega no ponto, possuindo também um rosto cansado, porém com uma certa impaciência, que o difere dos dois recém chegados lá. O homem estava com uma cara péssima, somando o seu cansaço com raiva e dúvida. Queria que o ônibus chegasse logo, queria saber o que esperava depois que chegasse na descida escolhida por ele do ônibus que pegaria.
A medida que o tempo passa cada vez mais vão chegando pessoas cansadas. Umas tristes, outras arrependidas. Umas com certa aceitação e outras com vontade de não estar ali. Ouve-se um barulho. É o ônibus chegando.
Todos olham a luz do farol aumentando e todos já se preparam para fazer fila. À medida que o ônibus chega, as pessoas ficam mais e mais apreensivas. O ônibus para, mas não abre a porta. As pessoas inquietas ficam se entreolhando pela primeira vez neste encontro.

Mas um barulho gera silêncio.

Eles ouvem um passo gentil se aproximando. Não é algo forte ou algo lento, é um passado duvidoso, como se a dona do andar estivesse perdida. A pequena imagem se forma na neblina e se revela uma menina, uma criança.
A porta do ônibus se abre e, como se fosse combinado, todos deixam a menina entrar primeiro. Quando esta entra no ônibus, todos começam a chorar. Os que estavam irritados, desirritaram-se. Os que estavam arrependidos, desarrependeram-se. Os que estavam inquietos, aquietaram-se. Um coro de choro se rompeu. Um choro penoso, um choro pra dentro. E as pessoas finalmente perceberam que a única coisa que não deveria estar ali já passou por eles, e por não possuir ainda a cabeça suficiente pra saber de nada, conseguiu superar tudo o que eles não conseguiram. E com se todos retornando a si, cada um foi entrando no ônibus e se acomodando nos lugares, sem sentimento algum além do cansaço.